terça-feira, 12 de maio de 2009

Jogos em Treinamento

Jogos Teatrais No Treinamento Comportamental
OS JOGOS TEATRAIS NO DESENVOLVIMENTO HUMANO Inês Cozzo Olivares E se vivêssemos o teatro como uma empresa? E os atores como funcionários dessa empresa? E a platéia como os clientes? Mas não é assim? E se é tudo tão igual , porque é tão gostoso, divertido,

OS JOGOS TEATRAIS NO DESENVOLVIMENTO HUMANO Inês Cozzo Olivares E se vivêssemos o teatro como uma empresa? E os atores como funcionários dessa empresa? E a platéia como os clientes? Mas não é assim? E se é tudo tão igual , porque é tão gostoso, divertido, rápido e eficaz o treinamento no teatro do que nas organizações? É claro que nada é tão simples assim! A verdade é que na realidade do teatro, os intermediários entre os funcionários e os clientes são poucos, às vezes nenhum. Portanto, o ator está muito mais próximo de poder avaliar a qualidade de seu desempenho ao término de seu expediente do que o está um operador de máquina numa linha de montagem da indústria automobilística. A arte sempre trabalhou a partir do senso de qualidade. E esse senso de qualidade não é transmissível através de uma relação de tarefas a serem realizadas desta ou daquela forma, como vem ocorrendo na maioria das empresas que está implantando a ISSO. Trata-se aqui de levar as pessoas a um nível de consciência tal, que elas percebam pôr si mesmas a importância de seu trabalho para o todo da organização. Trata-se de devolver a elas o valor intrínseco do seu trabalho, de sua capacidade produtiva. Hoje, a grande maioria das pessoas trabalha tendo como objetivo o salário (não muito motivador) no final do mês. Suas atividades pouco ou nada têm a ver com o que elas sonharam vir a ser um dia. E, no entanto, não existe nenhum trabalho que não seja enobrecedor ou que não acrescente algo de positivo à personalidade das pessoas. Os jogos teatrais surgiram no Brasil em 1982 com Ingrid Domien Kodela, então professora da cadeira de Teatro-Educação na USP, que desenvolveu sua tese: "Jogos Teatrais: um processo de criação", a partir do trabalho de viola Spolin, americana conhecida pôr suas técnicas de improvisação no teatro. A professora Ingrid foi a primeira pessoa a perceber que era possível e interessante transformar o aprendizado do teatro em uma técnica educativa.
Especificamente como técnica de treinamento, tomei contato com um trabalho dessa natureza em 1994 na ABTD (Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento), com Eunice Mendes e, recentemente, na USP (Primeira Clínica de Jogos Cooperativos – Junho/95), coordenada pelo professor Fábio Brotto. Nessa Primeira Clínica, o professor de Educação Física e Dança de Salão, que também é ator Eduardo Carmello, coordenou um laboratório sobre o tema: "Jogos teatrais e o potencial humano". É ele que explica mais sobre o assunto.
A concepção predominante sobre os jogos teatrais, segundo Eduardo, é a de ver o ser humano como um organismo em desenvolvimento, cujas potencialidades se realizam desde que lhe seja permitido desenvolver-se em ambiente aberto a experiências. Os jogos teatrais preocupam-se em aflorar as atividades espontâneas, as atitudes instintivas e impulsivas do ser humano, e tem como objetivo libertar a criatividade, fornecendo um ambiente propiciador à iniciativa. Os valores que se espera vão sendo adquiridos através dos jogos teatrais são: a experiência em pensar criativa e independentemente, o desenvolvimento da imaginação e da iniciativa e o aumento da sensibilidade para os relacionamentos pessoais. Os jogos teatrais têm sua fundamentação na arte e na educação, e, na educação, através de Jean Piaget. Eles são fundamentados em jogos de regras e de salão, em que objetivo é solucionar problemas e, de forma artística, tornar real o imaginário. É importante observar que os jogos teatrais têm muita semelhança filosófica com os jogos cooperativos, já que também trabalham a equipe, o grupo, procurando eliminar a competição. Na verdade as regras são para que os times solucionem problemas juntos. Os principais pontos identificados nos jogos teatrais são: a espontaneidade, o foco e o jogo de mostrar e contar. Falando sobre espontaneidade, a partir do momento que os alunos-jogadores, como são chamados, estipulam um jogo de regras, este é visto como um jogo de liberdade. Aliás, é um paradoxo curioso observado no teatro; numa instituição crítica, a regra é tida como repressora; numa instituição lúdica ela funciona como potencializador, porque é através dela que o aluno-jogador pode aflorar a liberdade. É como se fosse o aval para "brincar". A espontaneidade é também, o fato de integração, juntamente com o foco e o comprometimento, que permite a eliminação da falsidade. Numa caricatura, o jogador pode "contar" o que está se passando, mas só com o envolvimento e o comprometimento ele será capaz de "mostrar", isto é, fazer com que a platéia acredite e até sinta o que o personagem sente ou sugere que esteja acontecendo. O foco é um dos aspectos mais interessantes dos jogos teatrais, porque é ele que elimina o devaneio durante a atividade; ele objetiva onde se quer chegar. Pôr exemplo: qual a melhor forma de fazer com que o público perceba, através de mímica, que a cena é um jogo em que duas pessoas (ou mais) estão num cabo de guerra? O foco, que gera a concentração, é também o fator de direcionamento da atividade. O foco diminui o medo, uma vez que as regras estejam estipulados, e vai minimizando, até eliminar , o individualismo, porque somente juntos os jogadores poderão solucionar o(s) problema(s) apresentados dentro desse modelo de abordagem educacional. "Se souber mostrar", diz Eduardo Carmello, "você vai transpirar como se fosse olhar, como se fosse gesticular. Aí existe integração, a congruência. Esse trabalho elimina a falsidade, porque eu estou percebendo se você está comprometido ou não." "Contar x Mostrar" lembra a implantação de um projeto bem definido, com tudo pôr escrito, que todo mundo segue à risca, mas no qual ninguém está acreditando. Eduardo usa, pôr exemplo, exercícios em que o jogador tem que mostrar o que ele está fazendo ou onde está. Se outro jogador compreender a cena, junta-se ao primeiro e faz o mesmo, e assim pôr diante, até que, juntos, todos componham uma cena completa. "O interessante é observar a flexibilidade, além da criatividade das pessoas neste exercício," explica Eduardo. Porque se o jogador seguinte compreendeu mal a mensagem passada pelo primeiro jogador, uma ou duas coisa podem acontecer: o primeiro jogador pode perceber que sua capacidade de expressão não verbal (corporal) está deficiente e deve ser melhorada, ou os jogadores podem perceber que algo na cena mudou e, rapidamente, irão compor uma nova cena antes que o erro seja percebido pôr mais alguém. "O jogo aqui é: do que o meu companheiro está precisando neste momento? Existem várias formas de comunicação, como sabemos, principalmente através dos gestos. Está provado que são três os componentes de influenciação humana: o que dizemos, como dizemos e a fisiologia mostrada ao dizê-lo. Apenas 7% do conteúdo de nossa comunicação influencia de fato nosso ouvinte; 38% fica pôr conta da forma como falamos (volume, tom, velocidade e timbre de voz); e 55%, portanto, a maior parte de nossa capacidade persuasiva, está naquilo que mostramos enquanto falamos, isto é, na fisiologia, mais conhecida como expressão ou comunicação não-verbal. Paulo Branco, ator, bailarino, e professor de teatro, trabalha com uma técnica proveniente dos jogos teatrais: a ampliação das percepções e recuperação do reflexo (vide T&D no 12 dex/93). Ele cita como exemplo o seguinte: "se dissermos: ‘Vá pôr ali’, em termos de gestos, há algumas possibilidades de interpretação: fazê-lo lentamente, em tom suave e baixo, indica orientação. Aumentando a dinâmica, a velocidade e o tom de voz, passamos outra emoção, outra energia, obtendo, consequentemente, um resultado bastante diferente. Isto associado a um exercício de composição de um personagem leva o aluno a se perceber melhor enquanto ser comunicador, não apenas quando fala, mas permanentemente enviando mensagens." "Primeiramente, vamos buscar o que chamamos de ‘nosso zero’, isto é, aquele ponto em que não há absolutamente nenhuma mensagem emocional sendo transmitida, nem corporal nem fisiologicamente" explica Paulo. "Seria o estar centrado em nosso eixo, neutro. A maioria das pessoas não percebe que o que para elas é neutralidade, para as pessoas à sua volta, seus gestos significam outras coisas, isto é, elas podem estar interpretando como cansaço, agressividade, nervosismo etc. pôr um rito de canto de boca, um sobrecenho franzido ou uma ruga na testa. São signos, fatores universais, de compreensão em cada cultura e, invariavelmente, passam uma mensagem inconsciente que será refletida numa resposta verbal ou não-verbal pôr parte do interlocutor." "No teatro," continua Paulo, "Consideramos importante que as pessoas estejam conscientes disso, mais perceptivas, até porque, estes signos ou sinais serão absorvidos pela platéia e interpretados como parte integrante do personagem. Em suma, essas expressões faciais/corporais das quais a maioria das pessoas não está consciente, está dizendo mais sobre elas do que elas imaginariam ou gostariam, e, não raro, sendo mal-interpretadas. É interessante observar que as pessoas vão se observando através desse tipo de exercício." O que normalmente assusta ou incomoda as pessoas quando se fala em Jogos é o uso constante da expressão "aprender brincando". A palavra "brincadeira" parece tirar a seriedade do trabalho, tornando-o, na melhor das hipóteses, uma atividade anti-estressante, mas, dificilmente uma técnica ou método educativo. Na verdade, e considerando-se a situação de pressão e tensão permanentes dos profissionais nas empresas atualmente, ainda que um método só servisse a esse propósito, já seria de grande valia como ferramenta para RH. Mas não é o caso. Os jogos são a expressão primeira da educação. A criança brinca para se preparar para a idade adulta, desenvolver potencialidades, aprender papeis e socializar-se, entre outras coisas. Na idade adulta, os jogos se prestam tão bem a esse papel quanto o fizeram na infância. O perigo, na verdade, está no jogador não-comprometido ou, pior, no facilitador despreparado. Mas ai já seria o caso de rever ou criticar a formação de nossos profissionais, os técnicos, e não a técnica. De qualquer forma há uma diferença muito grande entre brincar e divertir-se. Nos jogos há um problema a ser focado em seu objetivo, desde que comprometido, e cabe ao facilitador grande parte da responsabilidade em devolvê-lo como um organismo vivo em todas as suas potencialidades e gerar envolvimento integral na atividade.

Fonte:http://www.rhportal.com.br/artigos/wmview.php?idc_cad=zyqa9befr

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